segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sala de Espera

Estava almoçando. O interfone tocou, mas não funcionou, então peguei a chave e fui até la. Ao abrir o portão me deparei com um cara negro, forte, aparentando ter mais ou menos a minha idade. Pude prever nos seus olhos o que estava acontecendo e aquilo me cortou o coração, mas não mudei de expressão, fiquei calado. Ele ao me ver ficou como entalado. Olhou pro lado, engoliu a saliva, olhou pra mim de novo: "Brother, é que eu fui fazer um trabalho numa casa ali, mas não tinha ninguém lá. Você pode me arranjar uma merenda? Porque eu ainda vou andando até em casa". Eu quis convidá-lo pra almoçar e dar algum dinheiro pra que ele não fosse andando, mas não fiz isso, nem quis dar a única nota que tinha na hora, de 50. Peguei um pedaço grande de bolo e um pacote de biscoitos enquanto ele esperava do lado de fora. Mal me agradeceu, não sei qual dos dois estava mais sem jeito, então era melhor nos livrar-mos rápido daquilo.
-Aqui...
-Valeu.
"Todos somos iguais", não sei nem o que dizer dessa frase, se concordo ou se discordo, que coisa!Uma mistura de raiva e vergonha! Podia ter pensado em palavras mais interessantes, mas não tem como falar dessas coisas de um jeito bonito.
Vai ver eu que nasci no mundo errado. Não dá pra conceber a idéia de amar esse mundo aqui... dessa felicidade circunstancial e que cresce em detrimento dos outros. Vamos passar nossa vida trabalhando pra festejarmos, vezes por ano, nossa própria desgraça.
Poderia falar mil vezes a respeito desse tema. Hoje ja acordei pensando nisso e esse fato só reforçou. Acredito de verdade que tudo isso aqui vai passar. Se pra você isso é tudo -seja feliz, se puder, e aproveite bem porque passa rápido- pra mim é apenas uma sala de espera.

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